Mulheres do Mundo: SOMOS UM
*Sandra Rosenfeld
 

Este é um mês especial para nós mulheres, o mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.

A data é comemorativa, um brinde ao que nós mulheres viemos alcançando com muita força, muita vontade e muita determinação. Espaços até bem pouco tempo negados hoje fazem parte do nosso dia-a-dia. Não foi fácil e continua não sendo. Realmente ainda caem sobre a mulher muitas responsabilidades não divididas, unilaterais, o que, com certeza, gera uma sobrecarga prática e emocional.

Houve perdas? Sim, sempre há perdas ao seguir em frente, mas um dos ganhos mais importantes, que suplanta qualquer perda foi o início de uma caminhada que a meu ver não tem mais volta, a conquista da independência financeira e assim a possibilidade de tomar nas mãos as rédeas da própria vida, o poder de decisão, de escolha, do ir e vir.

É claro que o quadro está longe de ser o ideal com muitas mulheres ainda excluídas. Mas, com tudo isso, ou exatamente por tudo isso, resolvi dedicar o meu primeiro artigo do mês a nós, mulheres.

Como sempre faço antes de começar a escrever, elaborei mentalmente o texto. Tentei fazer uma retrospectiva do que influenciou minha vida, positiva e negativamente até hoje e fui por aí, acreditando já estar com tudo pronto.

Mas, em décimos de segundos o meu planejamento foi por água abaixo.

Bastou sentar em frente ao computador e imediatamente todas as outras mulheres do mundo desabaram sobre a minha cabeça. Raças, cores, credos, classe social. Percebi mesmo antes de teclar a primeira letra, que no final somos todas UM e que, as dificuldades, tanto representadas no mundo físico como no psíquico, se entrelaçam, ficando parecidas.

Recostei na cadeira enquanto minha lembrança varria matérias e imagens de mulheres por esse mundo afora. Fixei minha atenção nas mulheres sofridas, sem perspectivas, sem escolhas, sujeitas a leis e regras determinadas por sociedades extremamente machistas. Mulheres que tiveram o destino traçado no momento em que nasceram, pelo lugar e classe social de seu país.

Agradeci, numa prece silenciosa, por ter nascido aqui no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, numa família de classe média, que seguia os conceitos da época, sem ser preconceituosa.

Contudo, olhando para trás, mesmo me considerando uma mulher de sorte, a caminhada não foi fácil. Quando ainda bem pequena meu sono era embalado por estórias em que as mocinhas eram necessariamente lindas, em situações difíceis e sempre salvas pelo príncipe encantado, que além de bonito, era forte, corajoso e rico. Cresci vendo a minha volta que, normalmente, o papel da mulher era o de coadjuvante. O papel principal era do homem.

Como muitas outras meninas da minha época, passei da adolescência para a idade adulta sem ter muita preocupação com a carreira por acreditar, no subconsciente, que o príncipe encantado me salvaria de todos os males e dificuldades. Maldade com nós mulheres e com os homens. Conosco, por colocar a nossa vida na mão do outro, e com eles por terem a responsabilidade sobre e da vida do outro. O que, na maioria das vezes, transforma o príncipe muito rapidamente em sapo.

Durante a espera do nosso salvador, foram muitas decepções, cabeçadas, sofrimentos e no meio de tudo isso a emancipação veio chegando, algumas vezes com estardalhaço e outras num silêncio profundo, daqueles que falam por si sem nada precisar dizer, enraizado em mudanças profundas. Quebras de paradigmas, conceitos e pré-conceitos. Como canta muito bem Ney Matogrosso: " ... rompi tratados, traí ritos... "

A caminhada continua. Com determinação e consciência, nós mulheres, podemos ocupar uma posição cada vez mais livre e independente, desde que tenhamos coragem de olhar não para fora,mas para dentro e perguntar sem pudor: o que quero para e da minha vida? E depois, realizar, apesar do medo.


*Sandra Rosenfeld
Consultora em Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) utilizando como ferramenta a meditação. Escritora, autora do livro O que é Meditação, ed. Nova Era, ministrante de palestras, cursos e workshops para promover qualidade de vida pessoal e profissional.
contato@sandra.rosenfeld.nom.br


( 03/2008 - publicado no site BemStar )

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