O Transtorno da modificação física

Sandra Rosenfeld*

 

 

Já há algum tempo venho pensando e colhendo dados sobre isso. As pessoas não ligam de envelhecer, a dificuldade estar em lidar com as mudanças físicas causadas pelo envelhecimento.
 
Envelhecer é também e, principalmente, sinônimo de maturidade. Aquela idade em que a gente começa a entender melhor a nós mesmos e o mundo a nossa volta. De forma alguma estou dizendo que ao envelhecer resolvemos todos os nossos problemas, nos tornamos mais acessíveis, fáceis, divertidos, livres. Isso tudo é uma conquista que se não começamos buscar lá atrás não vem de presente com a idade. Às vezes fica até pior.
 
Mas é verdade também que a vida e o tempo são os melhores mestres e a maturidade vem, mesmo que não seja em todos os aspectos e em todas as nossas facetas, ela vem. E disso a gente gosta. Nunca vejo ninguém reclamando de estar mais sábio.
 
Mas, olhar no espelho e não se reconhecer pode ser realmente difícil, mais para uns menos para outros, mas um pouco para todos. Outro dia, num evento, a palestrante, uma mulher de uns ciquenta e alguns anos, soltou a seguinte pérola que caiu perfeitamente bem no contexto e até ficou engraçado:  .... este corpo que não me pertence!
 
Para ela aquele não era seu corpo. O corpo que ela estava acostumada a olhar no espelho e gostar por tantos e tantos anos. Como lidar com a perda da cintura, o aumento do peso, da barriga, as rugas e o início de flacidez no rosto? É como se houvesse um grande hiato entre mente e corpo. Ela ali, ágil, inteligente, jovem e com um corpo que no pensar dela, não acompanha, se adiantou muito no tempo.
 
O homem também sente e fala. E agora, a exemplo das mulheres, recorrem as cirurgias plásticas buscando um pouco de alívio, de reconhecimento de si próprio, de aceitação. E, muitos, suprem as mudanças físicas causadas pela idade, com dinheiro, altos cargos, carros, aparência, poder.
 
Aqui no Brasil então chega a ser cruel a cobrança pelo corpo perfeito e da eterna juventude.

O interessante é que cada vez mais homens, muitos, não se incomodam de se relacionar com mulheres mais velhas do que eles e cada vez mais elas também estão aceitando se relacionar com homens mais novos. Depende, é claro, do que cada um está buscando para a sua vida. Mas a verdade é que hoje pode se envelhecer, mesmo que “não se reconhecendo”, porque as mudanças de fato acontecem, muito bem e ainda mantendo a beleza física.
 
Outro dia li uma matéria, no caderno Ela do jornal O Globo, que mais uma vez me chamou atenção sobre o fato da não aceitação da velhice muito mais pela decadência física que vem com ela do que pelo envelhecimento em si.  
 
O título era Futuro Roubado e o tema prostituição que começa na infância. Uma das mulheres, hoje adulta, diz a seguinte frase em seu depoimento: Eu não quero ficar velha! Não quero olhar no espelho e não ver mais o meu corpo, o meu rosto, a força que eu tinha.
 
Achei esta frase belíssima, pela força dela em si, pela clareza. Atualmente gosto muito de ouvir e ler é ouvir, escutando posso ver a alma do outro e geralmente me emociono. Ao contrário do que dizem alguns, quanto mais conheço os homens, leia-se aqui homem e mulher, mais gosto do ser humano.
 
Não podemos evitar os transtornos causados pela velhice, não ainda. Podemos, e devemos, fazer a nossa parte para envelhecer o melhor possível no corpo, na mente e principalmente na alma. E, aceitar, só assim temos paz e podemos aproveitar a vida com tudo que ela tem a nos oferecer ontem, hoje e amanhã.
 
 
 

* Sandra Rosenfeld é escritora, conferencista, instrutora de meditação, autora do livro O que é Meditação,

ed. Nova Era.
wwww.sandra.rosenfeld.nom.br / contato@sandra.rosenfeld.nom.br

 (abril/ 2009  - publicado no site Wellness Club)
 

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