Ao passar dos anos
* Sandra Rosenfeld

 

Eu não sei bem como é envelhecer em outros países, ou melhor, como é ser velho em outros países. Nos países ricos deve ser menos ruim do que nos países em desenvolvimento e nos países pobres. Aliás, será que se chega a velhice nos países pobres, bem pobres? É mais provável que, nesses países, as pessoas vão ficando pelo meio do caminho.

De qualquer forma, para a maioria das pessoas, envelhecer na maior parte das vezes não é bom. Não estou falando do processo de envelhecimento, mas sim da velhice em si. Não que o processo de envelhecimento seja bom, também não é. Envelhecer é complicado.

E não me venha falar que à partir do nosso nascimento já estamos envelhecendo porque isso eu sei, você sabe, todos nós sabemos. Estou falando da percepção do nosso envelhecimento. O que, na maioria das vezes, não acontece antes dos quarenta anos. Eu, por exemplo, só comecei a perceber algumas diferenças quando fiz cinqüenta. Hoje estou com cinqüenta e três. Nossa! Que coragem expor a minha idade assim, num artigo!!! Mas, se para viver é preciso coragem, para aceitar as mudanças que vão acontecendo no nosso corpo então.... Mas eu me considero uma mulher corajosa. É claro que também não entrego a minha vida ao acaso, faço a minha parte tanto para estar bem de saúde quanto em frente ao espelho.

Aqui no Brasil, onde o culto a forma física e a eterna juventude chega a ser quase doentio, aceitar o envelhecimento fica mais difícil. Para a mulher e o homem solteiros nem se fala. E ainda precisamos acrescentar nessa conta as carências inerentes a todos nós, que tem o poder de atrapalhar a nossa vida, e nos fazer ver a menor do que realmente somos e estamos. E haja plástica, botox, preenchimentos, vitaminas, etc etc etc, hoje para os dois sexos indiscriminadamente.

Exageros à parte, a verdade é que hoje não pode mais ser considerado velho que tem cinqüenta, sessenta e até setenta. E oitenta, pode? Eu tenho uma tia tão dinâmica e ágil que a meu ver é mais nova do que muitas de quarenta. E hoje tem mulheres de cinqüenta e homens de sessenta que são uns gatos, tem beleza, charme, presença. Mas falta alguém fazer um contato direto com o tempo e dizer isso para ele. Quem sabe assim ele deixa para colocar as suas marcas mais tarde um pouquinho?

Mas o que nos mantém novos, mesmo que pareça um clichê, é a forma como escolhemos viver a vida. Não há plástica, ginástica, nada que torne uma pessoa mais jovem e bonita do que o senso de humor aguçado, a leveza ao lidar com as dificuldades que surgem, a gentileza de tratar a si mesma e ao outro e a liberdade adquirida quando, ao envelhecer, se faz o processo contrário e se vai tirando os tijolos feitos de preconceitos, rótulos, frases feitas, hábitos, certezas, que tanto nos aprisionaram na juventude.

E rir, rir muito. Rir da gente. Quer coisa melhor do que rir de nós mesmos? Dos nossos erros, das nossas bobagens, dos nossos medos, das nossas gafes??? Afinal, no fundo, e nem tão no fundo assim, somos todos eternos adolescentes. Com direito a coração disparado quando estamos amando novamente, a longas conversas com amigas ao telefone e a reuniões divertidíssimas com os amigos.

*Sandra Rosenfeld
Uma nova proposta de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) utilizando como ferramenta a meditação. Escritora, autora do livro O que é Meditação, ed. Nova Era, instrutora de meditação, ministrante de palestras, cursos e workshops para promover qualidade de vida pessoal e profissional. www.sandrarosenfeld.com.br / contato@sandrarosenfeld.com.br
 

(16/ 09/2008  - publicado no site Wellness)

Você pode publicar este artigo em seu site, blog, comunidade ou e-mail, mas lembre sempre de colocar os dados da autora e o link ativo ( www.sandra.rosenfeld.nom.br ), que estão no final do artigo.

< Voltar