Nota da autora:
Minha idéia inicial era que a palestra estivesse em audio, porém, devido a qualidade da gravação, isto se tornou inviável. Optei pela transcrição, que eu mesma fiz o mais fielmente possível.

A palestra de Sandra Rosenfeld aconteceu na Mesa-Redonda Driblando o Stress, no dia 22/06/04 no Congresso de Stress promovido anualmente pela ISMA-BR – International Stress Management Association (www.ismabrasil.com.br) O auditório estava lotado com aproximadamente 410 pessoas.

Mediadora: Jorn. Francini Ledur ( RS ) – editora do Caderno Vida do Jornal Zero Hora.

Partcipantes e temas abordados:
• Dra. Ana Maria Rossi, Ph.D. ( RS ): precursora das técnicas de autocontrole e biofeedback no Brasil. Dirige a Clínica de Stress e Biofeedback , em Porto Alegre, e é presidente da ISMA-BR.
Tema: Homens X Mulheres: o preço do stress
• Carlos Legal Filho ( SP ): idealizador e coordenador estratégico do PYT – Programa de Yoga no Trabalho
Tema: A Visão do Yoga sobre o Stress
• Sandra Rosenfeld ( RJ ): escritora, conferencista, praticante de meditação, autora do livro O que é Meditação, ed. Nova Era / Record.
  Tema: Importância da Meditação para Promover Qualidade de Vida

Apresentação pela mediadora.

Eu queria chamar agora a nossa colega carioca, Sandra Rosenfeld, que vai falar sobre a importância da meditação no estresse e na qualidade de vida.

Palestra

Olá! Boa tarde! Estou muito feliz de estar aqui com vocês.

A meditação realmente tem tudo a ver com estresse e qualidade de vida na medida em que é uma poderosa ferramenta na redução do estresse e consequentemente na melhora da nossa qualidade de vida.
Eu digo que - Nós não podemos controlar eventos externos que acontecem independentes de nossa vontade, mas podemos controlar como lidar com eles - Eu acho que aí é que está a grande difrença e é aí que entra a meditação.

Nós vamos falar de um tema que é bastante subjetivo. Complexo e subjetivo. O que é meditação e que é novo para muitas pessoas.
Quem aqui pratica meditação?... Obrigada. Tem até algumas pessoas que praticam. Legal! Mas é um tema novo prá muita gente. E o que acontece? Toda vez que aparece um tema novo na nossa vida, a gente tem o hábito de querer enquadrar, rotular. E isso na verdade limita e diminui a nossa criatividade. Então, o que eu quero pedir para vocês é: “Gente, vamos deixar os conceitos e preconceitos de lado para estarmos abertos para o novo”.
Mas isso é complicado, né? Eu chegar para vocês aqui, sem mais nem menos, e falar: “Vamos deixar os conceitos e preconceitos de lado, vamos abrir o nosso coração para o novo”. Eu sei que não é tão simples assim. Há uma necessidade de que primeiro a gente esteja relaxados. Então, antes de mais nada, eu vou sugerir que a gente faça um relaxamento para que a gente possa continuar a nossa conversa. - ( burburinho intenso da platéia – nesse tipo de evento eles gostam dessas surpresas )

Vai ser um breve relaxamento. Eu vou conduzir o relaxamento.
O relaxamento existe na meditação, porém meditação não é relaxamento apenas. Meditação é mais do que relaxamento. Através da meditação a gente relaxa sim, mas a gente desenvolve atenção e concentração, que são essênciais ao nosso dia-a-dia tanto pessoal quanto profissional.

Então, nós vamos fazer o seguinte: - ( a partir deste momento falo bem devagar e diminuo o tom de voz ) - Vamos fechar os olhos. Porque com os olhos fechados a gente dispersa menos. Nós vamos todos fechar os olhos. Quem quiser tirar os sapatos pode tirar para relaxar mais ainda. Então nós vamos fechar os olhos -
( silêncio total da platéia ) - Muito bem... Vamos manter a postura ereta para que haja um bom fluxo de energia e da respiração... Então vamos lá... Vamos fechar os olhos... Vamos fechar os olhos... Isso... Vamos manter o ritmo da nossa respiração... Respirando normalmente...Assim... E agora, lentamente, sem pressa, vamos iniciar o relaxamento de nossos músculos... Vamos soltar os músculos da face... da testa... entre as sombrancelhas... da boca... relaxar o pescoço... soltar a nuca... os ombros... respirando normalmente... vamos relaxar os músculos das costas... do peito... relaxando os braços... soltar as mãos... mantê-las levemente apoiadas no colo... soltas... relaxar as pernas... soltar os pés... muito bem... os pés devem estar levemente pousados no chão... e agora, assim... mais relaxados... mantendo os olhos fechados... vamos fazer uma respiração mais profunda... vamos inspirar pelo nariz profundamente... e expirar pela boca... inspirar profundamente... sentindo o ar entrando pelas narinas, pelo nariz... o mais profundamente possível sem forçar... e soltando o ar pela boca... muito bem... assim... continuem... inspirando profundamente... e soltando pela bôca. - ( faço pausa de 30 ” para que a platéia aprofunde o relaxamento e perceba a respiração no silêncio ) - Ainda mantendo os olhos fechados... vamos voltar a respirar normalmente.... cada um no seu tempo... e agora... vamos abrindo os olhos sem pressa... cada um respeitando o seu tempo interior... vamos abrindo os olhos... devagar... abrindo os olhos... vamos abrindo os olhos... eu sei que para algumas pessoas fica mais difícil... vamos abrindo os olhos ... muito bem....

Quem conseguiu relaxar levante as mãos? Muito bem. Parabéns! - ( somente pouquíssimas pessoas não levantaram a mão ) - Quem não conseguiu não se preocupe porque relaxamento é uma questão de prática. O que vocês fizeram não deixa de ser uma pequena meditação voltada para o relaxamento. Agora, mais relaxados, fica mais fácil continuar a nossa conversa, porque quando a gente relaxa nós voltamos para o momento presente, que é realmente onde tudo acontece, e a gente fica também mais livre para receber o novo e consequentemente para lidar também com as dificuldades que acontecem a todo momento na nossa vida.

A maioria de nós vive no piloto automático. A gente dificilmente está presente no nosso dia-a-dia. Um exemplo fácil disso e importante é o nosso trajeto, pode ser de casa para o trabalho. Este é um exemplo simples. A gente geralmente toma banho, toma café, se arruma, sai para o trabalho, tudo no piloto automático. Nós não estamos realmente presentes ali, curtindo o banho, o café, as pessoas ao nosso redor. E vamos para o trabalho de carro ou de ônibus ou de metrô ou a pé, e de repente quando a gente se dá conta – “ Ih! Chegamos!” Não percebemos ao menos como a gente chegou no trabalho. As vezes, a gente dá uma olhadinha para o lado, vê alguma coisa, mas não percebemos.

Vocês podem dizer: Mas qual é o problema disso!?
Realmente, se isto acontecesse uma vez ou outra não teria problema algum, mas isto acontece com muita frequência em vários segmentos da nossa vida. Essa trajetória do automatismo levamos para a nossa vida pessoal, profissional, com a gente e com o outro. Junto com esse automatismo tem uma outra coisa importantíssima, temos a tendência a viver ou no passado ou no futuro, nunca aqui no presente onde realmente as coisas acontecem, onde a gente pode interagir.

Acontece que quando a gente está no passado... O passado na realidade foi feito para aprender e o futuro para planejar. Mas quando a gente traz o passado para hoje e traz o futuro para hoje, nós estamos trazendo junto as emoções do passado e do futuro. E que emoções são essas? Quando do passado a gente traz dor, a gente traz mágoas, arrependimentos... para hoje que não tem nada a ver com aquilo que já aconteceu. E quando do futuro a gente normalmente traz medo e ansiedade, que é o que a gente sente em relação a o futuro.

Agora, veja bem, a gente está no ambiente de trabalho... Vamos falar do trabalho, aqui estamos falando de qualidade de vida no trabalho. Então a gente pode estar no ambiente de trabalho lidando com situações importantes, de decisões, de prazo, enfim, numa reunião e você normalmente não está presente. Você está ou no passado ou no futuro e como está ligado no piloto automático não percebe isso, não percebe. Ah! sim! O que acontece? Quando a gente traz essas emoções para cá, para o momento presente, essas emoções geram outras que normalmente são irritação e raiva. Tanto a ansiedade e o medo geram irritação e raiva. Então, a gente está aqui no momento presente que não tem nada a ver com aquelas situações e vem alguém trazendo alguma idéia, algum problema, pode ser em casa também. Em casa a gente estoura direto, não tem essas regras... A preocupação em tratar mal o outro, mas no trabalho tem. Então o que acontece? Você trata mal essa pessoa, de maneira arrogante ou de maneira agressiva, ou de uma maneira irritada. E se essa pessoa for o marido, a mulher, ou o filho e as vezes até um colega de trabalho sim. E aí depois você cai em si, se arrepende e se pergunta: “Por que eu tratei assim essa pessoa? Por que eu fiz isso? “

Você fez porque você não estava no aqui e agora, você estava com as emoções do passado ou do futuro. E isto é muito sério, gente. Por que o que acontece? Vocês estão o tempo todo com um véu na frente de vocês. E é assim que vocês lidam com a vida e é assim que vocês lidam com as situações de estresse. A gente não lida com as situações como elas são, a gente lida, a gente vê, de uma maneira deturpada. Alguém aqui consegue perceber isso? Consegue perceber o automatismo, que está no piloto automático? Quem? Pode levantar a mão? –
( muitas pessoas levantam a mão ) – Isso já é um passo fundamental, porque a gente só tem condição de mudar qualquer coisa em nossa vida quando temos consciência dela. E é aí que entra a meditação.

Eu pratico meditação há mais de dez anos, escrevi um livro, trabalho com isso, mas antes eu era gerente de empresa. Então eu posso dizer, sem a menor sombra de dúvida, que a meditação é a melhor ferramenta para que realmente a gente possa ter o controle da nossa vida. Através da meditação tomamos as rédeas da nossa vida. Por quê? Porque a gente aprende a relaxar, a parar, a gente consegue silenciar a nossa mente, aquietar a nossa mente e passamos a ter controle sobre o que pensamos, sobre o que sentimos e sobre o que fazemos. Por quê? Porque pensamento e sentimento geram ação. Então é fundamental que a gente tenha controle, as rédeas da nossa vida.

Não tem como ser feliz, não tem como ter uma vida plena, não tem como vocês darem toda a produtividade de vocês no trabalho, não tem como vocês usarem toda a criatividade de vocês, se vocês não tiverem o mínimo de controle sobre vocês. Agora, para ter esse controle é necessário parar, gente. Por quê? Porque a vida está assim - ( gesto com as duas mãos de frente uma para outra em movimentos rápidos ) - A vida não para, a vida tem um ritmo frenético.

Nós vimos isso hoje aqui várias vezes em várias palestras, falando sobre as informações que nós recebemos, o ritmo frenético dessas informações.
A quantidade de informações que a gente recebe hoje seria inimaginável a pouquísssimos anos atrás. Entao, se a vida está num ritmo frenético a gente tem que saber parar, a gente precisa interromper, porque a nossa tendência é acompanhar esse ritmo. Acompanhar mental e fisicamente, o que é um grande gerador de ansiedade e de estresse.

Eu digo que muitas vezes nós cavamos o estresse na medida em que a gente não sabe parar, em que a gente não sabe relaxar. É muito importante aprender a parar, aprender a se dar um tempo, a colocar o nosso nome na a genda. Aprender a colocar o seu nome na agenda. É comum nas palestras que eu dou e nos workshops falarem assim: “Ah! Mas eu não tenho tempo para mim.“ E eu respondo: “Mas como - não tenho tempo para mim - se você é a sua vida? Se a sua vida e você não estão separados? “

Gente, não existe essa separação. Se você não estiver bem a sua vida não vai estar bem. Não existe qualidade de vida fora de você. A vida é você. Quando você morrer acabou a vida. É muito importante ter consciência disso, é muito importante aprender a se conhecer, a dar um tempo para você. A sair desse ritmo, porque na hora que você pára a vida continua assim - ( novamente o gesto com as mãos ) – mas aí você consegue ver o que está acontecendo com você e ao seu redor. Aí a vida começa a ser realmente divertida. No momento em que você começa a se perceber, a se conhecer, a conseguir olhar para você, aí a vida começa a se tornar interessante, aí você começa a ter uma vida plena e feliz.

Eu vou dar um exemplo simples e rápido. Eu era uma pessoa que tinha uma enxaqueca crônica. Eu tinha enxaqueca e tomava remédios de manhã e de tarde novamente. E quando comecei a praticar a meditação... O que acontece? Ela começa a te dar a possibilidade de autoconhecimento. Você começa a se perceber, a perceber suas emoções, seus sentimentos. Então eu comecei a perceber quando ia ter a dor de cabeça. Comecei a perceber que mudava alguma coisa em mim. Eu ficava irritada, meu coração batia mais rápido, a minha voz ficava mais rápida. Eu também comecei a ver qual era o gatilho, o que desencadeava. Então eu descobri que não podia ser contrariada. Agora imagina, a gente é contrariada da hora que acorda até a hora que vai dormir. Então era uma loucura, eu vivia com dor de cabeça o dia inteiro. Quando eu descobri a causa eu pude me livrar dela naturalmente.

Vamos guardar isto. Através da meditação a gente aprende a relaxar, relaxados a gente aumenta a nossa criatividade, nós somos mais produtivos, nós podemos ver as coisas como elas são e lidar melhor com as situações de estresse. Porque a gente começa a quantificar e a qualificar de uma forma real. Então isso é importante. A gente desperta, nós desenvolvemos atenção e concetração. E levamos isso para o nosso dia-a-dia. Tudo que você pratica na meditação naturalmente você leva para o dia-a-dia. Não existe outro jeito. É normal. Fora isso você expande a sua consciência, o seu nível de consciência. Isso é o mínimo que posso dizer. Porque muitas outras coisas acontecem, mas só quem pratica é que vivencia.

Eu digo que através da meditação nós despertamos o que temos de melhor. Porque a gente sabe que tem uma voz interior, porém, para escutar essa voz, a gente precisa aprender a aquietar nossos pensamentos. Se eu estivesse falando aqui e vocês estivessem falando ao mesmo tempo ia ser uma loucura e niguém ia entender nada. É isso que acontece com a gente. A nossa mente não para. Os nossos pensamentos são incessantes. E pensamentos que geralmente não têm nada a ver. A gente em segundos pensa tudo....

Se alguém aqui começar a praticar meditação vai perceber seus pensamentos e ter essa noção. Quando a gente silencia a mente, quando aquietamos a nossa mente, começamos a ouvir a nossa voz interior, a gente começa a se perceber. Então eu posso dizer, sem sombra de dúvida, que a meditação desperta e liberta, porque só é livre aquele que tem controle sobre a sua vida, sobre os seus pensamentos, sobre os seus sentimentos, sobre as suas ações.

Eu gostaria de encerrar lendo um pequeno trecho do livro que diz o seguinte: “Meditando encontramos o conhecimento. Ele está ali, à nossa disposição, dentro de nós mesmos, mas nossa mente inquieta não nos permite parar para encontrar e é na meditação que dominamos, aquietamos nossos pensamentos. Com a mente calma – e só assim – conseguimos enxergar o que precisa ser visto, ouvir o que deve ser ouvido e compreender o que é necessário ser compreendido.”
Então, conforme eu falei, a meditação realmente desperta e liberta.

É um tema muito amplo, eu teria muito mais coisas para falar, vou estar hoje a noite fazendo um workshop onde vou falar mais e ensinar a praticar a meditação.
Eu agradeço a vocês e espero ter ajudado um pouco. Obrigada. – ( palmas ).

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